O estudo abaixo visa demonstrar como uma ação que tem bons fundamentos e é, ao mesmo tempo, fortemente correlacionada ao Ibovespa se descola do mesmo conforme o tempo passa, comprovando a tese de que o Investimento em Valor premia com rentabilidades excepcionais os investidores pacientes que permanecem sócios de boas empresas por longos períodos de tempo.
A ação escolhida para o estudo foi a preferencial da Itaúsa (ITSA4), pois o papel possui forte correlação com o Ibovespa e alta liquidez, ao mesmo tempo em que possui fundamentos acima da média da empresas que compõem o índice. É quase um consenso entre os investidores de valor que a Itaúsa é uma empresa excelente.
Foram escolhidos gráficos comparativos de performances percentuais do retorno total -- dividendos inclusos -- nos períodos de 3 meses, 6 meses, 1 ano, 5 anos e 17 anos (lembro que no cálculo do Ibovespa os dividendos são considerados). É bastante visível a correlação entre a ação e o índice. Um cai, o outro cai. Um sobe, o outro sobe. No entanto, conforme os anos passam, notamos que aos poucos a ação passa a se descolar do índice pelo fato de, na média, cair sempre menos e subir sempre mais. Quanto maior o período, maior é a boca de jacaré que surge no gráfico.
3 MESES
ITSA4 vs. IBOV - 3 meses |
No período de 3 meses, a vantagem de ITSA4 foi de 3% em relação ao índice. Não é grande coisa, certo?
6 MESES
ITSA4 vs. IBOV - 6 meses |
Em 6 meses, a vantagem de ITSA4 em relação ao índice passa para 9%. Ainda não é grande coisa, certo? Vamos ao próximo.
1 ANO
ITSA4 vs. IBOV - 1 ano |
Em 1 ano, a vantagem passa para 13%.
5 ANOS
ITSA4 vs. IBOV - 5 anos |
Em 5 anos, ITSA4 fica com vantagem de 89% em relação ao IBOV. Uma senhora diferença, não? Mas calma. Isto não é nada.
17 ANOS
ITSA4 vs. IBOV - 17 anos |
Em 17 anos, o IBOV vira praticamente uma linha horizontal no gráfico comparativo. O retorno de ITSA4 no período teve uma vantagem de 12.008% em relação ao Ibovespa. Em termos anuais e nominais, Itaúsa rendeu sensacionais 33% a.a. para seus acionistas, diante de 9% a.a. do Ibovespa.
CONCLUSÃO
Este pequeno estudo não significa que Itaúsa continuará rendendo 33% a.a. para seus acionistas, pois é claro que rentabilidades passadas não significam rentabilidades futuras. A empresa viveu nos últimos 17 um período de crescimento que pode ser bastante difícil de replicar, tendo em vista que a companhia ficou muito grande e isto limita tal possibilidade.
A lição mais importante que podemos tirar disto é que não importa o tamanho da empresa nem se ela está fortemente correlacionada ao Ibovespa. No longo prazo os bons fundamentos falam alto e premiam generosamente os investidores pacientes que se mantém calmos durante as oscilações malucas do curto prazo e possuem uma carteira de boas empresas.
Jesse Livermore ficou conhecido pelo trading. Então, ninguém melhor que ele para dizer uma das melhores frases anti-trading que conheço:
Money is made by sitting, not trading.
Penso que o maior desafio não é saber para onde vai o mercado no curto prazo, mas saber onde estar "sentado". Baseado nisto, penso que os esforços devem estar sempre voltados para análises bottom-up que visam à identificação, com uma boa margem de acerto, das melhores empresas listadas, pois o longo prazo comprova que os problemas ocasionados pela política e pelo vai-e-vem dos preços de commodities, da taxa de juros, etc. -- foco das análises top-down -- não são páreo para as boas empresas em longos períodos de tempo.