quarta-feira, 14 de março de 2018

Aprendizados sobre a recente euforia nos criptomercados

Nos últimos 3 trimestres de 2017 vimos a cotação do Bitcoin, principal criptomoeda do mundo, sair da casa dos R$ 3 mil para quase R$ 70 mil, o que representa uma insana apreciação de cerca de 2.200% em menos de 1 ano.

No entanto, há uma regra comum a qualquer mercado que passa por uma onda de euforia: os preços cedo ou tarde corrigem; e corrigem com veemência. Neste momento o Bitcoin é cotado em torno dos R$ 30 mil, um valor 57% inferior ao atingido no auge da euforia.

Minha intenção com este post é a de relatar algumas coisas que aconteceram no meu dia-a-dia durante aqueles meses de euforia, assim como os aprendizados que podemos extrair disto. Os acontecimentos foram extremamente fiéis ao que consta nos melhores livros sobre o mercado, mais especificamente sobre euforias que causam altas exageradas em preços de ativos financeiros.

Durante a forte "pernada" de alta experimentada pelo Bitcoin no ano passado, eu experimentei um aumento de emails recebidos que foi proporcional à alta da criptomoeda, ou seja, quanto mais subia, mais gente me procurava. Estes emails eram de pessoas que estavam interessadas em informações a respeito do procedimento para comprar o ativo.

Começou com 1 email por semana e foi paulatinamente aumentando até que no ápice da euforia, quando o Bitcoin estava cotado em torno de R$ 60 mil, eu recebia uma média de 3 emails por dia de pessoas interessadas em comprar. Ademais, nesta época o interesse pela compra já havia contaminado todos os ambientes possíveis, afinal, até no Jornal Nacional o assunto estava presente. No auge dos preços eu já não recebia apenas emails. Colegas de trabalho, porteiro, pais, tios, ex-colegas de faculdade, amigos de infância que fazia tempo que não conversava, etc. Todos interessados no Bitcoin!

Minha postura em relação a estas pessoas foi a de recomendar cautela, sob o argumento de que momentos eufóricos quase sempre são péssimas ocasiões para se iniciar posição em qualquer ativo. Também comentava que eu estava fazendo vendas em vez de compras.

Então, o pânico, que cedo ou tarde substitui a euforia, chegou e o interesse no Bitcoin caiu junto com seu preço. Não recebi um email sequer após a queda. O assunto meio que sumiu. Após 57% de queda, nenhuma daquelas pessoas quer saber de Bitcoin.

Mais uma vez a história se repete e o bom conhecimento presente nos livros clássicos sobre o mercado financeiro encontrou ressonância na realidade. Mercados serão mercados, porque humanos serão humanos. O instinto de manada está presente em todos nós e certamente foi útil para que nossa espécie chegasse até aqui. Este instinto é muito bom para sairmos correndo de um prédio incendiado, para fugir de um bicho perigoso no meio do mato, etc. Porém, no mercado financeiro este instinto tem efeito inverso. Quase sempre coisas ruins acontecerão se nos deixarmos levar pela manada.

A lição que a realidade nos dá de presente - que também está disponível na experiência alheia contida em livros - é que alterações nos preços jamais devem ter o poder de alterar nosso julgamento a respeito do valor dos ativos. Algo não se torna melhor porque sobe, nem pior porque cai. Ações, FIIs, títulos, etc. A lição serve para tudo.

O valor é soberano e oscila muito menos que o preço. A maioria absoluta das boas compras estão disponíveis apenas para os que conseguem agir de maneira independente, se destacando da manada e encarteirando ativos cujo preço está abaixo do valor, o que geralmente ocorre quando a manada está depressiva e vendendo barato apenas porque seus instintos fazem com que a queda no preço seja sempre entendida como queda no valor. É claro que é verdade que às vezes o preço cai junto com o valor, mas não é sempre. É justamente nestas assimetrias que estão as oportunidades de compra.