segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Leitura de mercado


O Ibovespa fechou em topo histórico. Apesar da marca ser em termos nominais (considerando a inflação o topo está em cerca de 120.000 pontos), isto denota um inegável otimismo no mercado. Vou comentar sobre como estou vendo tudo isso com base no famoso jargão do Sir. John Templeton:

"Mercados de alta nascem no pessimismo (1), crescem no ceticismo (2), amadurecem no otimismo (3) e morrem na euforia.(4) "

1) Pessimismo - Hoje é fácil dizer que esta fase ocorreu em torno de fev/2016. O ambiente de extremo pessimismo com Dilma no poder e deterioração econômica se mostrou, novamente, uma ótima ocasião para compras. Este fenômeno é explicado pela lei da oferta e da procura. Em épocas assim a maioria das pessoas torcem o nariz para o mercado de ações. Quem está dentro quer sair e quem está fora não quer entrar. O excesso de oferta e a falta de procura faz os preços caírem até níveis irracionais. Consegui fazer boas compras nesta época, porém, com muita cautela, afinal, quando estamos no fundo, não sabemos com certeza se é realmente o fundo. Obviamente, se eu soubesse teria comprado muito mais. Mas estou satisfeito com o que comprei. A realidade nos mostrou pela enésima vez que quem tem sangue frio para comprar nestes momentos de máximo pessimismo é generosamente recompensado nos anos seguintes.

2) Ceticismo - Essa fase eu creio que também já passou. Lembro que nos meses seguintes a fev/2016 havia muita gente não acreditando na alta que estava ocorrendo. As pessoas estavam muito céticas e pregando que a qualquer momento tudo iria cair de novo. O argumento principal era: "A economia ainda está em frangalhos! A alta no preço dos ativos é injustificada!". Entretanto, como o mercado lê os jornais do futuro, a alta persistiu. A história mostra que o mercado de ações tem uma notável capacidade de prever recessões e recuperações econômicas. Ele estava novamente correto, pois pouco tempo depois começaram a aparecer os sinais de recuperação que servem de combustível para a próxima fase.

3) Otimismo - Creio que estamos aqui. Com as notícias de melhora no PIB e na inflação as pessoas começam a ter motivos para acreditar na alta dos preços dos ativos. Deixam o ceticismo de lado e ficam otimistas com o futuro, o que acaba dando mais pano para a manga, ou seja, mais demanda e menos oferta. Quem está dentro não quer sair e quem está fora quer entrar. Junta-se isto com a baixa na taxa de juros possibilitada pela queda da inflação, temos o ambiente perfeito para que os ativos se apreciem.

4) Euforia - A euforia não chegou e nada garante que irá chegar. Lembre-se que estamos no Brasil, um país de tradicional instabilidade político-econômica. A qualquer momento o ciclo pode ser interrompido por bombas vindas da política. Meu argumento para não estarmos em euforia está nos indicadores, tanto da bolsa como um todo quanto em vários papéis individuais. Na fase da euforia é comum a formação de bolhas, ou seja, os preços ficam completamente descolados dos valores intrínsecos dos ativos, o que ainda não é o caso. Importante lembrar que este suposto período de euforia não guarda qualquer relação com a magnitude da alta, pois se o PIB voltar a crescer, o aumento na produtividade e no lucro das empresas serve de lastro para os preços mais altos, logo, não há formação de bolha. Indícios de bolha são indicadores de Preço/Lucro muito altos, dividend yields muito baixos, etc. Caso isto ocorra no futuro, será uma boa ocasião para realizar a venda das ações que se tornarem caras demais e utilizar boa parte dos recursos para rebalancear a carteira, recompondo a Renda Fixa e outras classes que estiverem mais atrativas no momento.

Mas e então... o que fazer? Comprar ações no momento atual ou não?

É bastante óbvio que o momento de baixo risco era nas fases (1) e (2). Mas elas estão no passado e análise de retrovisor vale apenas como aprendizado.

O que importa é o presente, a fase (3), que é muito mais arriscada do que foram (1) e (2) mas não a vejo como desprezível. O maior risco de se comprar agora é não termos o ciclo completo, sendo o topo agora ou logo ali. Entretanto, apesar de o risco de ser maior e o cardápio ser menor, ainda acho válido continuar encarteirando ações que possuem bons dividend yields, bons ROEs, bons P/Ls, boas margens, etc. Penso que as compras devem ser tímidas, cirúrgicas e em bons ativos, de maneira que se o mercado virar você poderá comprar mais a preços melhores.

Identificar os momentos do ciclo olhando para o passado é fácil. Analisar o presente é menos fácil, mas perfeitamente possível. Porém saber sobre o futuro é impossível. Quem diz que sabe está mentindo.

Portanto, a boa gestão da carteira não deve ser feita com base em previsões sobre o mercado em geral. Devemos nos concentrar em adquirir bons ativos a bons preços, realizar ganho de capital em ações que fiquem eventualmente caras demais, cuidar da alocação, destinando o fluxo de caixa, aportes e vendas para as classes de ativo que estão abaixo do peso definido. Em épocas de preços baixos na bolsa o cardápio é maior, no entanto, o nível geral de preços, diga-se Ibovespa, não deve ser um inibidor de novas aquisições, a não ser que todos os ativos se transformem em bolhas, o que acho muito improvável.

No decorrer de muitos anos, as coisas boas acontecem numa frequência bem maior para os que compram boas empresas a bons preços do que para os que tentam tirar vantagem da direção do mercado no curto prazo.

Abraço!
Seguimos rumo ao desconhecido.