quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Sobre a direção dos preços no curto prazo e o meu comportamento em relação a isto

Vejo muitos investidores sempre preocupados com a direção dos preços no curto prazo. Nunca perdem a oportunidade de perguntar para os outros se vai subir ou cair, como se alguma dessas pessoas pudessem, de fato, prever o futuro.

Ninguém está apto a prever o futuro. Logo, preocupar-se com isto é gastar vela com defunto ruim. Em vez disso, penso que devemos direcionar nosso esforço mental para a elaboração de uma boa estratégia que contemple os únicos três cenários possíveis: cair, subir e ficar de lado.

Uma vez que ninguém pode prever o futuro, não faz sentido basear decisões de compra e venda nestas previsões na tentativa de antecipar movimentos do mercado e lucrar com isto. Quem faz isto pode até acertar de vez em quando, mas numa amostra mais numerosa provavelmente a pessoa descobrirá que teria sido melhor nada ter feito.

Para fugir destas angústias desnecessárias e improdutivas sobre o curto prazo, eu estabeleço critérios para tomar minhas atitudes e deixo o mercado decidir quando as tomarei. Tanto faz a direção dos preços no curto prazo. Relaxo, aproveito o passeio e vou fazendo o que minha estratégia mandar conforme os preços variam. Tirar das costas o peso que a preocupação com o curto prazo causa é uma benção e deve até fazer um bem danado à saúde. Minhas únicas preocupações se resumem no estudo dos fundamentos e das perspectivas dos ativos que tenho em carteira e dos que poderia ter. As únicas decisões que cabem a mim são derivadas destes estudos e é binária: vale posição ou não. Se vou iniciar, aumentar, manter, reduzir ou zerar, o mercado comunicará isto para mim através dos critérios pré-estabelecidos.

Bem. É importante dizer que isto não é ciência de foguete e eu não estou aqui para ditar regras. Resumirei o procedimento que utilizo para estabelecer meus critérios de compra e venda, os quais me atendem satisfatoriamente. Se o leitor achar uma boa ideia incorporar algumas das minhas práticas, OK. Se achar perda de tempo, OK também.

Uma coisa que funciona consistentemente neste ramo é utilizar critérios baseados em alocação. Gosto. Para me beneficiar disto, tenho pesos alvo definidos para as classes de ativo. Na maior parte do tempo, deixo estes pesos fixos. Mexer na alocação é exceção. Falarei mais delas num tópico adiante.

CRITÉRIOS DE COMPRA

Definidas as alocações alvo para cada classe de ativo, também defino alvos para cada ativo dentro de sua classe. Então persigo as alocações pretendidas através do direcionamento do caixa -- seja ele formado por aporte, dividendos, rendimentos ou eventuais vendas -- para as classes que estão abaixo do peso. Então, dentro da(s) classe(s) contemplada(s), busco novamente comprar os ativos que estão abaixo do peso, caso ainda estejam com preços atrativos para compra. Estes preços máximos a pagar vêm da análise de valor que faço individualmente para cada ativo.

CRITÉRIOS DE VENDA

Para vender ativos de classes como Renda Fixa ou Criptomoedas, meus critérios são também baseados na alocação. Simples. Ficou tantos porcento acima do alvo, vendo o excedente e faço caixa.

Para FIIs e ações, meus critérios de venda não são baseados em alocação.

Para FIIs, na verdade, meu critério é não vender. Minha estratégia para FIIs é a do só compro. Quando estão acima do peso definido, rebalanceio através de compras nas outras classes. Voltaria a comprar FIIs quando estes sofrerem alguma boa queda em suas cotas, o que abriria espaço na alocação para compras relevantes. O motivo para que eu não venda FIIs está relacionado ao fato destes ativos gerarem caixa para o portfólio mensalmente. Dou muito valor a isto. Estar sempre com algum caixa para adquirir mais ativos para a carteira é algo que faz muita diferença no longo prazo devido ao efeito capitalização composta que isto traz. Um motivo secundário é a minha aversão por pagar Imposto de Renda, visto que os FIIs não possuem isenção para vendas abaixo de R$ 20 mil no mês e a alíquota é de pesados 20%.

Para ações, a coisa é muito mais difícil. Quando iniciante ouvia muito isso dos mais experientes e hoje sinto na pele a verdade desta sentença. Atualmente, meu critério para vendas de ações é puramente definido pela análise de valor, pois acredito que não faz sentido vender algo só porque ficou acima do peso. Às vezes a posição em determinada ação está acima do peso alvo, porém se o preço está barato deixo rolar. Sequer fatio. O que faço é apenas parar de comprar. Uma venda nessas condições pode ser uma péssima decisão, pois pode fazer você ficar de fora de belos movimentos de alta. Logo, vendo ações em apenas duas ocasiões: quando preços sobem demais e entendo que o ativo está caro, realocando os recursos em outra empresa -- caso exista alguma alternativa com um dividend yield melhor ou com melhores probabilidades de valorização -- ou quando as premissas e fundamentos que me fizeram investir naquela empresa pioram sobremaneira.

EXCEÇÕES

Os critérios citados acima são regras que sigo para tornar a gestão da carteira desprovida de atitudes emocionais. Desde que passei a agir assim, o número de decisões acertadas aumentou muito. Entretanto, quase toda regra tem suas exceções. Não quero dizer que a exceção seria deixar o emocional agir. Em 99% do tempo é possível navegar bem com tais regras, mas há momentos em que é desejável tomar atitudes mais rápidas que, apesar de fugirem das regras, também são racionais.

Pânicos e fortes quedas no mercado -- dure dias, meses ou anos -- sempre acontecerão. Quando os ativos de Renda Variável entram em promoções imperdíveis, deixo as regras de lado para aproveitar com veemência os preços baixos. Em quedas fortes e generalizadas costumo fazer compras firmes nos papéis das melhores empresas, seja como aumentos ou inícios de posição, utilizando fatias mais generosas das reservas que mantenho em Renda Fixa de boa liquidez.

Apesar das regras de alocação também funcionarem nestes cenários -- pois a queda na Renda Variável faz o portfólio ficar sobrealocado em Renda Fixa -- vejo com bons olhos o envio de fatias mais parrudas (em vez de enviar apenas o excedente) da Renda Fixa para a Renda Variável durante períodos de pânico nos mercados.

Se, após utilizada a totalidade da Renda Fixa para comprar ações e/ou FIIs nas baixas, as promoções persistem, mantenho-me firme nas compras utilizando rendimentos, dividendos e aportes. Quando os preços enfim sobem e deixam de ser barganhas, passo a direcionar o caixa do portfólio para Renda Fixa, visando à recomposição das reservas utilizadas.

SOBRE O MOMENTO ATUAL DA BOLSA

Voltando ao início do artigo, sobre os investidores aflitos com a direção dos preços no curto prazo, vi até mesmo pessoas vendendo toda a carteira de ações apenas porque acham que a bolsa ‘subiu demais’, ‘prevendo’ uma queda iminente. Esta é uma atitude bastante arriscada.

Considero que, mesmo após as recentes altas das ações, é perfeitamente possível montar uma carteira com 10 ações de boas empresas que não estejam caras. Claro, não há barganhas, mas isto não significa que há uma queda iminente. Não devemos ter medo de bull markets. Se quisermos ser investidores bem sucedidos no longo prazo, devemos participar de bull markets em sua integralidade.

O Ibovespa está renovando suas máximas históricas em termos nominais, no entanto o topo histórico em termos reais está em torno de 120.000 pontos. Estou satisfeito com os dividendos que minha carteira de ações produz e a média ponderada do índice preço-lucro (P/L) da carteira está em 10,2. Vou deixar rolar, eventualmente trocando alguma empresa que suba demais e se torne cara por outra mais atrativa, caso eu encontre estas possibilidades. Na falta de alternativas atraentes em Renda Variável, devo passar a destinar recursos para a Renda Fixa, mesmo que esta já esteja acima do peso pretendido.

Eu não faço ideia para onde irão os preços no curto/médio prazo. Confio nas empresas e FIIs que possuo. Se o mercado cair, será um prazer aumentar posição nestes papéis. Se subir, também está ótimo. É como diz uma frase de um investidor que não me lembro do nome no momento:

Quando o mercado cai, aproveitamos para comprar barganhas. Quando sobe, estamos ricos.

Sua carteira de investimentos não deve ser motivo de angústia e preocupação constante. Pelo contrário. Devemos investir para ter cada vez mais tranquilidade e prosperidade. Tenha boas empresas e fundos em carteira, faça uma gestão racionalmente criteriosa e curta a viagem.