terça-feira, 9 de janeiro de 2018

​Ainda sobre concentração

O sujeito acerta um investimento e se sente burro por não ter concentrado. Aí pensa "bom... na próxima oportunidade destas eu vou concentrar... Não vou cometer o mesmo erro..." Então a oportunidade chega e, como toda oportunidade, o fato do ativo estar com o 'preço errado' vem acompanhado de nebulosidade e incerteza. Se não houvesse incerteza, não haveria desconto. Aí o sujeito faz a análise diligente e decide que os ​odds ​são favoráveis. Igualzinho naquele outro que ele acertou. Então, para não cometer o "erro" da última vez, ele concentra. Aí algo que não estava no ​script ​acontece e, na verdade, o que parecia barato agora ficou caro devido aos imprevistos - nunca se esqueça que estamos na selva Brasil.

Pronto. Deu merda e o sujeito que estava achando que ia dar a tacada da vida perde 50% do patrimônio e anos de trabalho. Lembre-se que a tristeza da perda é sempre maior que a alegria do ganho. E o prejuízo psicológico é muitas vezes ainda maior e mais danoso que o financeiro.

Logo, penso que arrepender-se por não ter concentrado em determinado investimento que deu certo é um pensamento ruim e infrutífero que, se não for abafado pela razão e pela lógica, pode fazer a gente correr riscos desnecessários no futuro. Devemos estar sempre satisfeitos por ter acertado um investimento, seja com 1% da carteira ou com 20%.

Controle de risco nunca é um erro, exceto se você diversificar exageradamente. Estudos demonstram que a partir de 10 ativos a curva de risco passa a cair muito pouco. Então é racional focar nas melhores oportunidades. Penso que este seria o ponto ótimo entre diversificação e concentração. Não menos que 5 ativos, não mais que 15.

Lembre-se que no longo prazo os campeões são os caras que vão comendo pelas beiradas, devagar e sempre, sempre ali nos segundos quartis anuais. Geralmente, os caras que estavam se gabando de estar nos primeiros quartis de curto prazo vão ficando pelo caminho. Então o cara que estava ali quietinho nos segundos quartis de curto prazo passa para os primeiros nos de longo prazo, e de lá não sai mais.

Nos investimentos é melhor ganhar uma maratona do que uma corrida de 100 metros.